Cem anos de papai – honrando minha ancestralidade
Cem anos de papai – honrando minha ancestralidade
- novembro 5, 2018
- Posted by: zek
- Categoria: Dicas de florais Geral Rosana Souto

Hoje, se estivesse vivo, meu pai completaria 100 anos. No entanto, há vinte anos ele nos deixou, pouco antes do seu aniversário de 80 anos.
O estranho é que, a medida que o tempo passa, mais eu o sinto em mim e agradeço, todos os dias, por tê-lo tido como pai. Ficamos muito mais próximos, após sua morte, do que quando vivo.
Não que ele não tenha sido um bom pai. Foi do tipo pai provedor; o modelo de pai que vigorava nas décadas de 50 e 60, pouco interferindo na dinâmica do lar e na nossa educação. Isto cabia a mamãe, que sempre ditou as ordens da casa. Mesmo sendo militar, ele só intervinha, quando mamãe passava dos limites…
Papai foi um bom homem, carinhoso e justo que, em função de sua bondade, algumas vezes, sofreu rasteiras da vida e, noutras, preferiu calar-se, para não nos prejudicar. Sempre esteve do meu lado, me apoiando em minhas escolhas, até mesmo, quando decidi deixar a Engenharia.
Fui sua filha caçula e, como entre o filho mais velho e eu, havia uma diferença de 12 anos, quando comecei a entender-me como gente, papai já não estava mais tão lúcido para os longos papos. O tratamento de um câncer de próstata viria provocar alguns acidentes vasculares com comprometimento da memória. Nos anos em que lutou contra o mesmo, papai fez uso de muitos florais, alguns que chegaram a reverter a previsão dos médicos:
– Agora, não esperem mais muito dele. É possível que não fale mais ou deixe de andar. É melhor vocês se acostumarem…
Esta era a minha deixa para intervir com as flores. Elas nunca nos decepcionaram. Numa destas isquemias, papai, não só voltou a falar, andar e a cantar, como resolveu começar a frequentar a igrejinha ali da Gávea, perto de onde moravam. E lá se foram mais alguns anos, indo e vindo do sítio Umbuzeiro, em Itaguaí, para a Gávea e vice-versa.

Em 1996, quando comecei a dar os cursos de formação em florais, a ancestralidade trazida por papai começou a aflorar em mim. É que a família Souto ( Souto Lima ) é toda musical. Meu avô, além de tabelião, foi maestro, compositor e ensinou música para todos os seus filhos. Papai, além de tocar vários instrumentos, também tinha o dom de compor, assim como meu irmão Thomas. Estava sempre acompanhado do violão e adorava “inundar a casa´” com música bem alta, já cedinho.

Das minhas poucas lembranças de Recife, quando pequena, o som de música latina invadindo a casa e nos acordando era típico dele: sons de orquestras, trompetes, e também dos boleros do Agustin Lara. Ouvir música pela manhã, muitas vezes, bem alta, é coisa que eu herdei…
Portanto, juntar música aos florais, foi algo que veio naturalmente, como meio de ajudar meus alunos, a fixarem o padrão positivo trabalhado por alguma essência. Com isto, nos meus cursos de Florais de Bach e também da Califórnia, cantamos e vivenciamos Gonzaguinha, Almir Sater, Lulu Santos e Chico Buarque, dentre outros.
Os processos terapêuticos e os anos de florais ajudaram-me a curar algumas feridas e a entender melhor algumas de suas atitudes, que na época, não tinha condições de perceber. Fiquei em paz e agradecida a papai.
No entanto, só mais recentemente, coisa de uns quatro anos, fiz uma descoberta pra lá de interessante com relação a ele. Numa fase em que a internet da casa da mamãe estava com problemas, levei meu computador para o quarto que foi do meu irmão e fiquei trabalhando na mesinha da estante do mesmo, em busca de um melhor sinal.

De tempo em tempo, parava de escrever e meus olhos repousavam nos livros da estante. A maioria era muito antiga, a capa remendada, que lembrava tê-los vistos ali desde menina. Num certo momento, o título de um deles chamou-me a atenção: A Chave da Felicidade e a Saúde Mental, de Marcelo J Fayard. Era a tradução de um livro em espanhol, que não tinha nem data. Abri-o e lá estava a assinatura de papai. O livro pertencia a ele!! Quando o folheei parecia estar lendo o Cura- te a ti mesmo do Dr Bach: as mesmas ideias – um capítulo só sobre emoções e enfermidades e outro que se intitulava Como triunfar sobre o medo. Meu Deus!!! Meu pai já sabia destas coisas muito antes de eu nascer!!
Continuei garimpando na estante da mamãe e, como se o primeiro livro já não bastasse, descobri mais outras pérolas pertencentes a papai. Dentre estas, um livro de 1949, de Dale Carnegie, intitulado: Como evitar preocupações e começar a viver. Um livro todo voltado a como destruir o hábito da preocupação!

Ora, estes estados mentais foram objeto da última série de florais pesquisados pelo Dr Bach, o que ele chamou de Dezenove Complementares. Uma série que, segundo dizia, era para aqueles que poderiam nunca ter adoecido fisicamente mas, que, no entanto sofriam de forma inimaginável de dores e preocupações…”
Nossa!! Depois deste, as lágrimas já não paravam mais de rolar. Meu pai, meu pai Ivandro conhecia a relação entre saúde x doença que rege a pesquisa do Dr Bach e nunca tivemos a oportunidade de conversar sobre isto! Logo percebi que o fato de eu estar ali não tinha nada a ver com a internet… De alguma forma, ele quis que eu soubesse disto…
Papai sempre teve um pouco de médico, apesar de ser Especialista em Mecânica de Aviões. Era ele quem nos aplicava injeções, tirava a temperatura, etc… Era ele que decidia se era hora de ir para o hospital…
Além dos livros sobre saúde mental, papai também lia sobre parapsicologia e outros. Era um questionador da espiritualidade, mas não podia negar que alguns fatos envolvendo sua mãe e algumas coincidências, o deixavam intrigado. Até hoje, lembro-me da história que contava de como foi parar na Praça do Comércio, em Portugal, em busca de uma imagem de Dom José I, a pedido de minha avó. Esta passagem, é o que me faz dar uma passadinha na Praça do Comércio, para dizer “alô” a D José, toda vez que vou a Lisboa…
Papai foi o primeiro filho homem de uma série de quatorze filhos de meus avós China ( Leopoldina Augusta de Souto Lima ) e Zé Souto ( Também conhecido como Mestre Zé Souto – José de Souto Lima ). Antes dele nascer, já havia algumas irmãs ( Iracema, Inah, Yvone, Yolanda e Irene), por isso o I de seu nome, ao invés do E – Ivandro.
Depois, com tantos filhos, eles tiveram que recorrer a mais letras para dar nome aos demais: José ( tio Souto – filho ), Afrânio, Manoel ( tio Neco ), Alberto ( tio Berto ) , Marluce, Maristela, Glaucia e Glaura … Hoje, muitos destes irmãos já fazem companhia a papai e a seus pais, no plano espiritual. Tio Souto, tio Afrânio, tia Maristela e tia Marluce ainda são nossa referência aqui neste plano.
“Eu nasci em Umbuzeiro, do lado de lá”
O curioso é que, a casa de meus avós era bem na divisa dos estados da Paraíba e de Pernambuco, com quartos que vovó podia escolher a naturalidade de seus filhos. Daí o verso da música de papai…
Apesar de ser uma cidadezinha do interior do agreste nordestino ( https://pt.wikipedia.org/wiki/Umbuzeiro_(Para%C3%ADba) ), Umbuzeiro foi berço de personalidades ilustres brasileiras e meu avô sempre deu importância à educação de seus filhos, sendo ele, já naquele tempo, considerado um homem letrado. Vovô foi filho de um juiz de direito…
Além disto, tanto meu avô como minha avó eram profundamente religiosos. Vovô compôs o hino em homenagem à padroeira de Umbuzeiro, Nossa Senhora do Livramento, enquanto minha avó foi a grande responsável pelo desenvolvimento da fé que sempre me ajudou a vencer os medos para agir no mundo. Apesar de nossa pouca convivência, sua presença em mim é tão forte que, muitas vezes, pego-me tamborilando os dedos sobre a mesa, como ela costumava fazer, quando estou concentrada. Coisa que a epigenética deve ter uma explicação!
Muitas de minhas tias escolheram a área da educação, outras atuaram no jornalismo ou no comércio, enquanto os homens, assumiram profissões diversas. Papai optou pela Aeronáutica e, com sua especialização em mecânica de aviões, serviu na época da Segunda Guerra Mundial. Costumava dizer que sem mecânico, avião não voa. Por isto, sempre teve muito orgulho do que fazia e muitas histórias para contar das panes que conseguiu reverter no ar.
U, Umbuzeiro*, U, gera sombra mata sede e ainda dá umbu
Beabá, be bi bó, bu,
Gera sombra, mata sede e ainda dá umbu
Como compositor, gostava de compor frevos, marchinhas e os engraçados forrós de pé de serra, que hoje canto para embalar os bisnetos, que ele não teve a oportunidade de conhecer – uma forma de trazer a eles um pouco deste bisavô. Também compôs música para todos os seus netos, e, até para Ieda, amiga minha de infância…


Com seu trabalho, teve a oportunidade de conhecer vários lugares do mundo, incluindo o Egito.

No entanto, após deixar a Aeronáutica, seu refúgio foi o sítio, que carrega o nome de sua cidade natal, cenário de reuniões e festas inesquecíveis de nossa família e amigos.

Ele e mamãe tiveram quatro filhos; Fernando Antônio ( Nininho ), que foi aviador e faleceu em 1966, Roselane ( Nininha ), Thomas e eu. Conheceram-se na casa de minha tia Carminha, exímia pianista e amiga de mamãe, que viria a ser esposa de meu tio Souto. Papai encantava todas as moçoilas com sua beleza chocolate e seu violão. No entanto, mamãe assim que o viu, teve um pressentimento, que me contou há pouco tempo: parece que eu vou casar com este moço. E não deu outra! O sexto sentido de mamãe nunca falhou!


Sem dúvida, papai foi um homem sábio e talentoso, a frente do seu tempo. Por vezes, me pergunto quem é ele nesta teia que nos uniu como pai e filha. Só sei que cada passo que dou, estou junto a ele e meus ancestrais agindo, aprendendo e evoluindo em conjunto, levando o nome da família Souto/Souto Lima adiante.
Sou só Amor e Gratidão!! Parabéns, meu querido pai!!
Fique na Luz!
* Umbuzeiro ( Spondias tuberosa L. ) é considerada a árvore sagrada do sertão nordestino ( http://g1.globo.com/natureza/videos/v/umbuzeiro-e-conhecido-como-a-arvore-sagrada-do-sertao/1450949/ )
Para fazer as pazes com a figura de seu pai e resgatar sua ancestralidade, recomendo o uso das essências Californianas Baby-Blue-Eyes e Saguaro. Leia o post https://cosmosdrops.wordpress.com/2014/08/16/baby-blue-eyes-a-essencia-do-pai
7 Comentários
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Lindo texto, querida Rosana!
Se bem a conheço, todo ele escrito com muita emoção…
Eu, li-o com a lágrima no canto do olho.
É tão importante reconhecermos o que herdamos dos nossos pais para compreendermos a nossa existência…
Grata por essa partilha.
Um beijinho Grande do outro lado do Atlântico, da terra do Dom José I.
Com certeza, querida amiga. Obrigada! Você é uma bela consequência da coragem que tive para confiar na vida e atravessar este oceano! Bjs, irmã de alma!
Texto emocionante e fotos que me fazem reviver o privilégio do convívio com este grande cantador e contador de histórias, o nosso Coronel Ivandro. Ainda não havia lido este post quando comentei no facebook exatamente o mesmo trecho da música Umbuzeiro que aqui está . No da Rose, eu havia citado outros versos que são inesquecíveis para quem tenha ouvido mesmo que uma única vez. Assim de simples…: “1234, 4321…”
Que linda homenagem, Rosana! Fotos maravilhosas relatam a história dessa família tão querida, e de carona aquela dos “nossos pais” na varanda ! Grata surpresa! Emocionante!
Emocionante! Gratidão por compartilhar.
lindo e cheio de amor prima! parabéns!
Obrigada, meu primo! Feliz em saber que vc passou por aqui. Recomendações à Tia Maristela. Abraços saudosos em todos vcs!