Os miosótis da Ieda

Mais antiga do que Renzo e Thales, Ieda é a amiga de infância com quem ainda tenho mais contato. Enquanto eu só conheci os meninos no ginásio, Ieda já fazia parte da minha vida, desde o primeiro ano primário. Vivíamos tão juntas, que papai, até, compôs uma música para ela. Explico: papai era compositor. Fez música para todos os filhos e, posteriormente, para todos os netos.

Sempre fomos muito diferentes: ela falante, eu quietinha, ela loira, eu morena, ela, o Dr. Kildare e, eu, o Ben Casey… Juntas brincamos muito de boneca, de concurso de miss, e comemos muito bolo da Ia – da nossa saudosa Maria. Também fomos fadinhas, dançamos e ajudamos a organizar muitas quadrilhas lá no Cassino dos Oficiais.

Mesmo sem ter consciência, éramos um suporte mútuo para sobreviver as circunstâncias que a vida nos trouxe. Ela, a convivência diária com um ser especial, seu irmão mais velho Paulinho, numa época ainda de muitos preconceitos , enquanto eu, o enfrentamento da perda prematura do meu irmão mais velho, Nininho, o Fernando Antônio. Ieda achava Nininho lindo. E este post é por causa destes nossos dois irmãos.

É que, assim, que eu criei o blog, e postei o link de um dos primeiros artigos, no facebook, Ieda chamou-me no bate-papo. Ela estava num pós-operatório bem complicado, querendo conversar, e eu, atolada, correndo, com os preparativos para minha primeira temporada na Inglaterra. No entanto, parei para dar-lhe atenção. Ela dizia que, ao ler o meu texto, lembrara-se de Nininho. Este não tinha nada a ver com ele, mas ela começou a falar do meu irmão mesmo assim. De repente, do nada, ela mudou a conversa e disse:

– Rosana, não sei por que isto me veio à cabeça agora… Lembra de um livrinho, que tinha na  mesinha de cabeceira da sua cama, sobre a lenda do miosótis e a Nossa Senhora?

(Ieda lembra de tudo. É a memória da minha infância, na vila dos oficiais da Aeronáutica, no Galeão. Sabe fulano, que morava na rua X? Fulano, filho de beltrano, etc, etc…É impressionante, como ela se recorda de tudo e de todos que ali moraram! )

Eu – Que livrinho, Ieda?

– Era um livrinho de orações, que tinha uma lenda que dizia que o miosótis era a flor que nasceu das lágrimas de Nossa Senhora…

Eu – Verdade? Não, não lembro, não. Tem certeza que era meu? Nossa Senhora e o miosótis? Você tem certeza disto?

( A conversa estava ficando interessante…Tantos anos ensinando sobre a Miosótis/Forget-me-not e eu não sabia da sua associação com as lágrimas de Nossa Senhora )

– Tenho, Rosana. O miosótis sempre foi a minha flor preferida… Eu casei com uma grinalda de miosótis.  Fiz questão disto…

E foi aí, que entrou a terapeuta floral…

Eu – Ieda, eu adoro a miosótis, mesmo sem lembrar desta história. Tem uma essência floral, chamada Forget-me-not, que é feita com as flores do miosótis. Ela é muito especial, pois conecta-nos com os seres da nossa família que já estão no plano espiritual. Você não precisa dela. Você já é uma miosótis, fazendo a ponte entre lá e cá. Você sentiu a presença do meu irmão, só de entrar em contato com o que eu escrevi.

– É, Rosana, eu sempre tive disto. De repente, saio falando de alguém que já se foi e ninguém entende nada…

Eu – Pois é, Ieda, isto é um dom. A miosótis também era a flor preferida do Chico Xavier, sabia?

– Não, não sabia não. Me manda umas fotos para eu fazer uma aquarela dela pra você…

E assim foi feito…Ieda presenteou-me com esta linda aquarela da miosótis, do início deste post, e eu trouxe, para ela, uma pequena imagem de Nossa Senhora, em renda, resultante das minhas andanças na Bélgica, para a gente não esquecer jamais esta história.

Quanto ao Paulinho, este conseguiu passar por esta vida conservando sua bondade, alegria e inocência, deixando-nos há quase um ano – um ser verdadeiramente especial e lindo. Foi ao encontro de sua mãe, Wanda, já há alguns anos, no plano espiritual. Em sua jornada terrestre, fez muitos amigos  ( Você é meu amigo? ): dos mais simples aos mais ilustres, que junto a sua família, convidam para missa de um ano de sua passagem. A todos, deixo aqui o meu carinhoso abraço.